Em dezembro de 2020, o Brasil registrou mais de 234 milhões de acessos móveis à internet. Acesso móvel é o nome dado, por exemplo, para os chips de celular ou tablet que podem ser usados para serviços de voz ou de conexão à internet, como a tecnologia 3G e 4G. Os números de 2020 representam um aumento de 7,39 milhões em relação a 2019, o equivalente a 3,26%.
Os dados são do relatório de acompanhamento do setor de telecomunicações, publicado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O documento reúne números nacionais, por Unidade Federativa, por empresa prestadora do serviço, por tecnologia, por tipo de produto e modalidade de cobrança, entre outros. O relatório enfatiza, nas análises, mudanças entre o fim de 2019 e 2020, bem como os efeitos da Covid-19 nos números da telefonia móvel.
Acessos móveis voltaram a crescer em 2020
No mercado brasileiro, observava-se, desde 2015, uma tendência de decréscimo do número de acessos. “Antes da popularização de aplicativos de mensagens e de voz por meio de rede de dados, era comum que consumidores tivessem acessos em mais de uma prestadora de telefonia móvel, de maneira a economizar em ligações para contatos de diferentes prestadoras”, explica a Anatel em nota.
Após a popularização desses aplicativos, os consumidores passaram a abrir mão de acessos em diversas prestadoras, tornando-se clientes de uma única empresa. Essa tendência durou até julho de 2020. “A partir de julho de 2020, todos os meses apresentaram crescimento mensal do número de acessos. Em especial, os três últimos meses de 2020 apresentaram taxa de crescimento de acessos próximo a 1% em comparação ao mês anterior. Taxas de crescimento mensal superiores a 0,5% não eram observadas desde 2014”, aponta o relatório da Anatel.
A Covid-19 pode ser um dos fatores que explicam esse aumento dos acessos. De acordo com o relatório, “com a transferência forçada de atividades para a modalidade on-line, em especial as aulas de crianças e de adolescentes, houve um aumento na compra de dispositivos para permitir a realização dessas atividades”. O celular, também segundo o documento, é o dispositivo mais barato de acesso à internet, e muitos desses aparelhos já são vendidos atrelados à contratação de um novo plano.
Por outro lado, apesar do aumento, a expectativa é que, uma vez que a economia se normalize em um período pós-Covid-19, a tendência seja novamente de decréscimo. “É provável que os acessos de telefonia móvel continuem em declínio assim que a situação se normalizar”, preveem especialistas da Anatel.
Expectativas para o 5G e Internet das Coisas
Em uma nova oscilação dos números, a tendência de decrescimento dos acessos móveis só deve se manter até o início da operação das redes 5G, de acordo com nota da Anatel: “Quando a operação das redes 5G começar e houver uma massificação da Internet das Coisas [do inglês, Internet of Things, ou IoT] centrada em clientes industriais, espera-se uma explosão do número de acessos de telefonia móvel voltados a atender essa vertical de mercado. É provável que os acessos da IoT superem em número os acessos de celulares, smartphones e tablets”.
Densidade de acessos em 2020 chegou a 97,20
A densidade é o número que estima a quantidade de acessos por 100 habitantes. Em 2020, o índice chegou a 97,20, o que representa um aumento de 1,11% na comparação com 2019. Entre as Unidades Federativas, apenas Goiás e Tocantins não tiveram crescimento na densidade. No recorte regional, “verifica-se que houve aumento em todas as regiões, sendo que a região Centro-Oeste foi a que apresentou menor aumento”, pontua o documento da Anatel.
Concentração de mercado
A Anatel utiliza o Índice Herfindahl-Hirschman (HHI) para medir a concentração e a concorrência entre os participantes no mercado de telefonia móvel. Esse índice varia entre 0 e 1, sendo que, quanto mais concentrado for o mercado, maior será o HHI. O HHI fechou o ano de 2020 em 0,2518. A meta estratégica da Anatel é manter o índice abaixo de 0,3594. Nos últimos dez anos, o HHI da telefonia móvel no Brasil manteve-se por volta de 0,25.
“O usuário dos serviços de telecomunicações, alvo principal de uma política de competição, é quem mais se beneficia de um sistema de ampla, justa e livre concorrência. Sob esse regime, os agentes têm os corretos incentivos para disputarem a preferência do consumidor, por meio da diferenciação das ofertas, em parâmetros de preço, qualidade, atendimento e outras comodidades de consumo. O resultado é um mercado mais diverso, aberto, inclusivo e propenso a inovações”, explica nota da Anatel.
Pós-pagos x pré-pagos
Dados apontam que, desde 2011, a quantidade de planos pós-pagos (historicamente menor) aproximava-se da quantidade de planos pré-pagos (historicamente maior). Os números observados nos últimos anos levaram especialistas à previsão de que os pós-pagos ultrapassariam os pré-pagos logo no início de 2020, mas isso não ocorreu. Hoje, os pós-pagos são maioria, mas essa inversão só ocorreu de fato a partir de setembro do ano passado.
De acordo com o relatório da Anatel, “o prolongamento do pré-pago como modalidade de cobrança predominante provavelmente teve influência da Covid-19 e de seus impactos econômicos, que levaram os consumidores a preferirem acessos pré-pagos”. Essa modalidade de cobrança tem um custo mais controlável, e a inadimplência, nesses casos, não tem grandes consequências. Além disso, muitos dos aparelhos celulares já são vendidos com a contratação de um novo acesso pré-pago.
Tecnologia 4G já tem mais acessos que a 3G na época de auge
No fim de 2020, o 4G era a tecnologia predominante na telefonia móvel brasileira em todas as unidades federativas, com mais acessos (173,7 milhões) do que o 3G no auge, em 2015 (168,5 milhões).
Em 14 estados, a cobertura do 4G passa de 80% dos acessos. Rondônia e Roraima são os estados que mais utilizam 4G no Brasil, onde a cobertura dessa tecnologia chega a 86% dos acessos móveis. Os estados que menos utilizam 4G são São Paulo (66%) e Rio Grande do Sul (68%), nos quais a cobertura das tecnologias 3G e 2G ainda é maior na comparação com as demais unidades.
Cobertura 4G por Unidade Federativa
Em todas as Unidades Federativas, a cobertura da tecnologia 4G em áreas urbanas é igual ou maior a 94%. No que diz respeito aos setores rurais, porém, ainda há muito a avançar: em Roraima, apenas 3% das áreas rurais possuem cobertura 4G. Também na retaguarda estão o Amazonas (8,8%), Amapá (11%) e Mato Grosso (12,7%). Os maiores índices de cobertura 4G na zona rural encontram-se no Distrito Federal (92,2%), Rio de Janeiro (80,3%) e São Paulo (78,6%).
Em números totais (considerando a cobertura tanto na zona rural como na urbana), o 4G está presente de forma mais expressiva no Distrito Federal (99,7%), Rio de Janeiro (99,2%) e São Paulo (99%). Ao fim da lista estão Piauí (72,2%), Maranhão (72,6%) e Pará (74,5%).
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