Consultor político de Wilder afirma que senador não precisa do apoio de prefeitos em 2026

Wilder Morais: Partido Liberal teve desempenho ruim nas eleições municipais de 2024 em Goiás – (Foto Arquivo)

Após desempenho ruim do PL nas eleições municipais, estrategista relativiza importância política de prefeitos; história das urnas em Goiás mostra que capilaridade foi decisiva para maioria dos governadores eleitos

Em artigo publicado no jornal O Hoje, nesta terça-feira (12/8), o advogado e jornalista Nilson Gomes – consultor político do senador Wilder Morais (PL) – afirma que o apoio de prefeitos já enterrou duas candidaturas ao Palácio das Esmeraldas. Ele busca mostrar que uma eventual candidatura de Wilder ao governo no próximo ano não precisa de apoio dos gestores municipais. A análise, no entanto, parece mais uma muleta retórica para relativizar a pequena base de sustentação do senador nos principais municípios e não encontra sustentação na história.

Ao tentar relativizar o peso do apoio municipal, Nilson Gomes descreve prefeitos como agentes de perfil oportunista e que exigiriam afinidade pessoal com o candidato. Mas a realidade eleitoral mostra que, em Goiás, um candidato que conquista ampla adesão de prefeitos tende a reforçar sua presença no interior, garantir capilaridade e, sobretudo, construir vantagem estratégica.

Para sustentar seu argumento, o consultor político recorreu a dois exemplos: as eleições de 1998 e 2018. No entanto, omitiu que, em 2018, em nenhum momento o então governador José Eliton apareceu como favorito nas pesquisas de intenção de voto, ao contrário do que o texto sugere ao falar em “não restava brecha para erro: estava reeleito com facilidade”. Ao contrário, Eliton angariava todo o desgaste dos mandatos do PSDB em Goiás.

Nilson Gomes também usou 2022 como exemplo, afirmando que Wilder Morais se elegeu senador sem o apoio dos prefeitos. O consultor, porém, deixou de mencionar dois fatores decisivos: Wilder contava com o apoio do então presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), e foi beneficiado pela fragmentação de votos entre os demais candidatos ao Senado da base governista – como Alexandre Baldy (PP), Delegado Waldir (União Brasil) e ao menos outros três postulantes de centro-direita – cenário que favoreceu diretamente sua vitória.

Além disso, desde a redemocratização, a ampla maioria dos candidatos eleitos para o governo de Goiás contou com o apoio majoritário dos prefeitos. No estado, essa rede municipal tem se mostrado decisiva para garantir capilaridade, ampliar presença no interior e consolidar a força eleitoral necessária para vencer disputas ao Palácio das Esmeraldas. Vide as conquistas pelo MDB de Iris Rezende e Maguito Vilela, e por três das quatro eleições de Marconi Perillo.

A leitura de Nilson Gomes fica ainda mais frágil diante do contexto atual. Em 2024, Wilder trabalhou com a meta de eleger mais de 50 prefeitos, já de olho na sucessão estadual. Acabou muito distante dessa meta. Sobrou, então, a mudança no discurso sobre o peso de ter apoio majoritário dos prefeitos.

Enquanto a base do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e do vice-governador Daniel Vilela (MDB) reúne mais de 200 prefeitos, o PL de Wilder enfrenta dificuldades para manter algum apoio municipal. Prefeitos que eram da sigla migraram para a base governista e a tendência é que mais líderes municipais façam o mesmo caminho até 2026. Dessa forma, o artigo de Nilson Gomes, mais do que uma análise isenta, soa como uma construção narrativa para suavizar a dificuldade que Wilder Morais enfrenta em atrair lideranças municipais.

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