As contas externas registraram saldo negativo de US$ 3,97 bilhões em março deste ano, de acordo com dados divulgados hoje (26) pelo Banco Central (BC). Em março de 2020, o déficit havia sido de US$ 4,257 bilhões nas transações correntes, que são as compras e vendas de mercadorias e serviços e transferências de renda do Brasil com outros países.
O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, destacou que, a partir deste mês, a comparação se dará sobre períodos impactados pela pandemia, que passou a influenciar os números em março do ano passado.
Entretanto, segundo ele, a causa dos resultados similares nas transações correntes entre os meses de março de 2020 e março de 2021 se deve, principalmente, em razão das importações no âmbito do Repetro – regime aduaneiro especial de exportação e de importação de bens que se destina às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e gás natural – que foram de US$ 6,5 bilhões em março de 2021 ante US$ 1,6 bilhão em março de 2020. “Isso diminuiu o resultado da balança comercial e fez com que o déficit em transações correntes fosse maior em 2021”, explicou.
O Repetro suspende a cobrança de tributos federais na importação de equipamentos para o setor de petróleo e gás, principalmente as plataformas de exploração. Na comparação interanual, o saldo da balança comercial recuou US$ 2,5 bilhões, enquanto as despesas líquidas de renda primária e de serviços apresentaram retrações de US$ 1,8 bilhão e US$ 607 milhões, respectivamente.
Em 12 meses, encerrados em março, foi registrado déficit em transações correntes de US$ 17,834 (1,24% do Produto Interno Bruto – PIB), ante saldo negativo de US$ 18,121 bilhões (1,26% do PIB) em fevereiro de 2021 e déficit de US$ 71,041 bilhões (3,97% do PIB) no período equivalente terminado em março de 2020.
Balança comercial e serviços
As exportações de bens totalizaram US$ 24,613 bilhões em março, aumento de 33,7% em relação a igual mês de 2020. As importações somaram US$ 25,05 bilhões, incremento de 53,6% na comparação com março do ano passado. Com esses resultados, a balança comercial registrou déficit de US$ 437 milhões no mês passado, ante saldo positivo de US$ 2,09 bilhões em março de 2020.
O déficit na conta de serviços (viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos, entre outros) manteve a trajetória de retração e atingiu US$ 1,057 bilhão em março, ante US$ 1,664 bilhão em igual mês de 2020.
No caso das viagens internacionais, as receitas de estrangeiros em viagem ao Brasil chegaram a US$ 213 milhões, enquanto as despesas de brasileiros no exterior ficaram em US$ 313 milhões. Com isso, a conta de viagens fechou o mês com déficit de US$ 100 milhões, ante US$ 227 milhões em março de 2020, recuo de 56,1%.
Entretanto, segundo Rocha, em março do ano passado, a conta de viagens já sofria o impacto da pandemia, pois em janeiro de 2020, esse déficit tinha sido de R$ 774 milhões, por exemplo. Isso significa que a conta de viagens deve continuar reduzida enquanto durarem as restrições de deslocamento e as pessoas não se sentirem dispostas a viajar.
Destaca-se também, na mesma base de comparação, a redução de 52,9% nas despesas líquidas de aluguel de equipamentos, de US$ 1,2 bilhão em março de 2020 para US$ 567 milhões em março de 2021. De acordo com Rocha, isso se deve pela nacionalização (importação) de equipamentos no âmbito do Repetro, ou seja, de bens que passam a ser propriedade de residentes no Brasil, sem a necessidade de pagamento de aluguel a não-residentes.
O chefe do BC explicou que o efeito ainda vai permanecer na base e ajuda a reduzir o déficit se serviços por um período maior.
Rendas
Em março de 2021, o déficit em renda primária (lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários) chegou a US$ 2,993 bilhões, contra US$ 4,860 bilhões no mesmo mês de 2020.
A conta de renda secundária (gerada em uma economia e distribuída para outra, como doações e remessas de dólares, sem contrapartida de serviços ou bens) teve resultado positivo de US$ 518 milhões, contra US$ 177 milhões em março de 2020.
Investimentos
Os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 6,864 bilhões no mês, ante US$ 7,386 bilhões em março de 2020. Nos 12 meses encerrados em março de 2021, o IDP totalizou US$ 39,256 bilhões, correspondendo a 2,73% do PIB, em comparação a US$ 39,778 bilhões (2,76% do PIB) no mês anterior e US$ 68,748 bilhões (3,84% do PIB) em março de 2020.
De acordo com Rocha, o IDP em 12 meses se reduziu em função dos choques da pandemia e das incertezas dos empresários ao longo do ano.
Quando o país registra saldo negativo em transações correntes, precisa cobrir o déficit com investimentos ou empréstimos no exterior. A melhor forma de financiamento do saldo negativo é o IDP, porque os recursos são aplicados no setor produtivo e costumam ser investimentos de longo prazo. Apesar de os investimentos estarem menores neste ano, no acumulado de 12 meses o IDP supera o déficit nas contas externas, que também se reduziu por causa da crise gerada pela pandemia.
Em março, houve saída líquida de investimento em carteira no mercado doméstico no total de US$ 2,084 bilhões, contra US$ 22,228 milhões de saída líquida em igual período de 2020. No caso das ações e fundos de investimento, houve saída de US$ 2,996 bilhões. Já os investimentos em títulos de dívida tiveram entrada líquida de US$ 912 milhões.
Rocha explicou que já há a recomposição líquida de investidores estrangeiros no mercado doméstico, após as perdas com a pandemia. De fevereiro a maio de 2020, houve uma saída de US$ 35,3 bilhões, recuperados de junho a fevereiro de 2021, com ingresso de US$ 35,2 bilhões.
Já em março desde ano, houve uma saída líquida e a projeção para abril é de um valor mais ou menos zerado. Segundo ele, não é possível afirmar que exista uma tendência de saídas líquidas, já que o resultado de março foi pontual comparado à estabilidade que deve ocorrer em abril.
O estoque de reservas internacionais atingiu US$ 347,413 bilhões em março de 2021, redução de US$ 8,7 bilhões em comparação a março de 2020.
Para o mês de abril de 2021, a estimativa do Banco Central para o resultado em transações correntes é de superávit de US$ 5,7 bilhões, enquanto a de IDP é de ingressos líquidos de US$ 4,9 bilhões.