Deputados vão pedir prioridade para pessoas com qualquer grau de obesidade na vacinação contra Covid

O deputado Jorge Solla (PT-BA) se comprometeu a enviar ao Ministério da Saúde o pedido de médicos para que inclua a obesidade em todos os graus – e não apenas a mórbida – como fator de priorização na vacinação contra a Covid-19 no Brasil. Outro requerimento deverá ser encaminhado também à pasta e aos conselhos de secretários de saúde para que priorizem o tratamento da doença ligada ao acúmulo de gordura corporal, inclusive nos casos em que a cirurgia bariátrica for indicada.

A obesidade como fator de risco na pandemia de Covid-19 foi tema de uma videoconferência promovida nesta terça-feira (27), por iniciativa de Jorge Solla, pela comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha as ações de combate à Covid.

Gustavo Sales/Câmara dos Deputados
Jorge Solla: assistência a pacientes com obesidade ficou represada na pandemia

“Sintetizo nestas três grandes dimensões o problema: a vacinação e a obesidade como fator de risco para a Covid; a assistência ao paciente obeso com Covid; e a preparação do sistema de saúde para assistir aos pacientes que estão represados nesse período tão adverso que estamos vivendo”, resumiu Solla.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), que também participou da audiência, sugeriu que os especialistas elaborem uma nota técnica a ser encaminhada junto com o pedido, a fim de facilitar “a inclusão da pessoa portadora da obesidade no esquema prioritário de vacinação”.

Riscos

Com índice de massa corpórea acima de 40, as pessoas com obesidade mórbida possuem chances maiores de adquirir diversas doenças, como diabetes ou hipertensão, e maior risco de morte. São mais vulneráveis também às formas graves de Covid-19.

Gustavo Sales/Câmara dos Deputados
Fabio Viegas: paciente com obesidade e infectado pelo novo coronavírus tem 64% mais risco de ser intubado

“Quarenta e seis por cento dos obesos têm mais risco de adquirir Covid. O paciente obeso tem 113% mais risco de precisar de internação hospitalar, 74% mais risco precisar de uma UTI e 64% mais risco de ser intubado”, listou o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Fabio Viegas.

Ele lembrou que a obesidade mórbida é uma doença. “As pessoas não ficam obesas porque comem muito. Isso é um erro. Conhecemos muitas pessoas que comem muito e são magras”, enfatizou. “Obesidade também não está associada à falta de atividade física. Não é uma doença comportamental. Não é culpa de ninguém ter obesidade. O grande problema é que essa doença é marcada, sofre preconceito e mata muitas vezes.”

Pessoas com obesidade mórbida já estão entre os grupos prioritários de imunização contra a Covid. O pedido dos médicos, no entanto, é que também se vacinem todos os pacientes com obesidade leve ou moderada. “Caiu o número de internação de idosos. Por quê? Porque foram vacinados. Se vacinarmos portadores de obesidade com IMC [índice de massa corpórea] a partir de 30, eu não tenho dúvida de que em poucos meses estaremos livres desse estresse no sistema público”, observou o membro da Câmara Técnica de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Conselho Federal de Medicina Ricardo Vitor Cohen.

Bariátrica

Outro pedido dos médicos disse respeito à cirurgia bariátrica como tratamento para o paciente com obesidade, podendo ser equiparada à cirurgia oncológica ou à cardiovascular.

“Hoje ela vem sendo comparada com cirurgia estética e não é isso. No primeiro mês, o paciente operado melhora todos os parâmetros dele, regulariza a pressão, a glicemia. Estamos falando de uma cirurgia que reduz em 72% a internação por Covid”, comentou Fabio Viegas.

Preconceito

O debate abordou ainda o preconceito sofrido pelas pessoas com obesidade.

A coordenadora do Coletivo de Pessoas com Obesidade da Bahia, Nélia Almeida, reclamou da falta de equipamento, de maca e de tensiômetro para o braço dos portadores de obesidade nos hospitais brasileiros. “Na maca do Samu, não cabe uma pessoa com obesidade. Mas tudo isso a gente vai discutir após a gente se vacinar”, ponderou.

Já a coordenadora nacional do Movimento “Vai Ter Gorda”, Adriana Santos, afirmou lutar pela “despatologização do corpo gordo”.

“A gordofobia se tornou mais acentuada e visível durante a pandemia. Nós, pessoas gordas, vivemos um isolamento social mesmo sem estar na pandemia. A maioria das pessoas gordas são mulheres, periféricas e negras”, declarou. “O primeiro passo para a desconstrução da gordofobia é despatologização do corpo gordo pela medicina.”

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