Em debate na Comissão de Cultura na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (27) sobre a criação do Dia Nacional do Funk, produtores que atuam no segmento apontaram preconceito com o estilo musical brasileiro conhecido internacionalmente.
O representante do movimento Liga do Funk, Bruno Ramos, foi quem sugeriu aos deputados a discussão sobre o Dia do Funk. Ele afirmou que a criminalidade não está associada ao funk e, sim, à falta de políticas públicas, incluindo casos de violência que acontecem no chamado “pancadão”.
“Não é culpa do movimento funk. Isso é ausência de políticas públicas. E se toca funk nesses territórios é porque é a cultura, é a música que conecta o jovem da periferia”, disse. Segundo Bruno Ramos, o funk já provou que salva vidas. “Ele tira crianças das mãos do crime, dá um caminho profissional para muitos jovens, permite espaços de liberdade e o reconhecimento para as mulheres e para a comunidade LGBTQIA+, que são esses corpos estigmatizados pela grande mídia”, enfatizou.
A pesquisadora Juliana Bragança estuda o movimento há dez anos e destaca que a criminalização se deu em grande parte pelo discurso midiático da década de 1990. Para ela, essa imagem precisa ser desfeita para garantir que a indústria do funk continue existindo e se ampliando, resgatando jovens da criminalidade e dando visibilidade às periferias brasileiras.
Mais ouvido no mundo
Segundo estudo publicado em 2019 pelo DataFolha, o funk é o estilo musical brasileiro mais ouvido no mundo. Apesar da sua importância cultural, o ritmo continua sendo marginalizado — o que, segundo o DJ Malboro, que iniciou sua carreira na década de 1970, precisa ser mudado.
“O funk mudou a vida de muita gente. Quantos jovens saíram do tráfico para ser cantores, para ser artistas? Cada MC que faz sucesso numa favela não muda só a vida daquele jovem, mas a vida de muitos jovens que veem uma oportunidade de ter ascensão, de ter reconhecimento, sem ir para o tráfico”, afirmou.
O produtor musical Konrad Dantas, criador da produtora musical KondZilla e do canal no YouTube com mesmo nome, com 64 milhões de inscritos, os vídeos de funk estão entre os mais assistidos no mundo, e a indústria envolvida nessa produção musical alimenta milhares de famílias em todo o País.
Produção nacional consumida aqui
Konrad Dantas disse ainda que o funk é o segundo movimento musical mais presente em diversas plataformas, o que faz com que o Brasil, ao contrário de outros países, consuma principalmente produção nacional.
“O Brasil tem uma peculiaridade: diferente de outros lugares do mundo, onde as pessoas consumem muito a cultura americana, as músicas americanas, aqui a grande parte do consumo é de músicas brasileiras, e o funk é o segundo maior movimento aí dentro dessas músicas”, apontou Dantas.
Os funkeiros sugerem que o Dia Nacional do Funk seja comemorado em 12 de julho, data do Baile da Pesada, realizado em 1970 no Rio de Janeiro, considerado um marco do movimento no Brasil. A data já é comemorada nos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.
Expressão cultural
O deputado Alexandre Padilha (PT-SP) coordenou a reunião e lembrou que o funk não é mais um movimento regional e, sim, uma expressão cultural de todo o País.
“Temos que colocar o funk na página que cabe, que é a cultura, da cultura jovem, da cultura da periferia. Tirou tanto jovem do pior caminho, gera renda, divulga o Brasil para o mundo inteiro e ainda recria espaços de criatividade permanente”.